terça-feira, 29 de dezembro de 2009
relatos de um náufrago
dias a nado, a procura de um beijo
doce ou salgado, azedo, um beijo
O mundo de Garlahanna, amada por slaol e fruto de inveja de lahanna acabava entorno daquele barco ate o dia da sua explosão. Naquele barco existia paz, amor e harmonia. Mas o barco explodiu. O náufrago, que é muito esperto, rapidamente alcançou um barriu de hidromel que, furado em baixo, serviu como uma ótima boia.
Na primeira noite (veja você) veio uma fortíssima tempestade. O ex marinheiro esbravejava sobre as ondas e lançava pragas contra o vento. Mas o vento não ouviu suas preces e a tempestade durou durante toda a madrugada.
No primeiro dia a tempestade passou. Mas o sol castigava as costas do náufrago. Debruçado sobre o barril, os raios de sol eram como xicotes de fogo que queimam suas costas, chegando ao ponto de implorar para que a tempestade voltasse naquele dia quente de verão.
Mas aquele tempestade
Era uma tempestade de verão
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Vinícius e o ganso
Alguns dizem que foi o a bebida, outros falam que foi um acidente, mas como toda boa fabola podemos tirar proveito de uma valiosa lição!
Tudo começa em um sitio em Ariró, em um chão de poca aderencia caracterisco das chuvas de verão, presentes naqueles dias... nossa! que dias!
Vinicus em sua completa arrogancia, em sua soberba inseguraça, presente em seu porte fisico artifical, se move contra a fauna e tudo oque ela representa, ao atormenta um pacifico ganso, meu caro leitor não se deixas enganar pacifico não é indefeso...
O ganso então trazendo consigo sua ira de seus instintos ancestrais, desce o cacete no vinicius! Vinicius então fragilizado e envergonhado, fala palavras barbaras afim de esconder seu ferido ego... diz:" qunado o ganso não tiver olhando eu vo la descer o cacete nele!
O ganso envocado distrais com os campos a sua volta, vinicius ainda mantendo seu temperamento juvenil corre atras do ganso em largos passos cheios de rancor e vingança, mas infeliz é o vinicus que vacila com os pés e cai de barriga na lama ao lado de seu adversario e mais uma vez o ganso desce o cacete no vinicius, que se acaba em prantos gritando cheio de odr : porra tira ese ganso daqui! ai! ai!.
Moral da historia: respeite a natureza. =]
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Bike
(Barrett) 3:22
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the scarecrow
The black and green scarecrow as everyone knows
Stood with a bird on his hat and straw everywhere.
He didn't care.
He stood in a field where barley grows.
His head did no thinking
His arms didn't move except when the wind cut up
Rough and mice ran around on the ground
He stood in a field where barley grows.
The black and green scarecrow is sadder than me
But now he's resigned to his fate
'Cause life's not unkind - he doesn't mind.
He stood in a field where barley grows.
astronomy domine
Lime and limpid green, a second scene
A fight between the blue you once knew.
Floating down, the sound resounds
Around the icy waters underground.
Jupiter and Saturn, Oberon, Miranda
And Titania, Neptune, Titan.
Stars can frighten.
Blinding signs flap,
Flicker, flicker, flicker blam. Pow, pow.
Stairway scare Dan Dare who's there?
Lime and limpid green
The sounds surrounds the icy waters underground
Lime and limpid green
The sounds surrounds the icy waters underground.
the gnome
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Como um cão
Os dias passam e o calor se vai. A chama da paixão esta cada dia mais fraca. Hoje é apenas madeira em brasa, esperando por mais combustível, para exercer o amor. O amor que machuca é o mesmo que se procura. Não adianta mais latir, abanar o rabo ou tentar chamar atenção de qualquer maneira. O fogo não escuta mais as preces daquele cão sarnento. Ele caminha longas distancias, farejando qualquer indício de verdade, do bom e puro amor, o amor que curaria sua sarna e suas enfermidades, mas só tem visto perdição e ilusão.
O cão então resolve voltar para casa. Seus donos gritam de alegria ao ver-lo, eles já não sabem o que fazer para deixar-lo preso em casa, pois é um cachorro esperto, sempre da um jeito de fugir da prisão. No conforto do lar lhe dão comida, cuidam de suas doenças e lhe dão carinho. Mas o calor que procura não está lá, então ele repousa e solta um longo suspiro, sabendo que em breve terá que sair a caça novamente.
Antes de dormir, ele contempla a lua. Olha no fundo do seu grande olho branco e solta um longo uivo, em seguida os outros cães da vizinhança começam a uivar também, como se alguém tivesse avisado a eles que a lua estava lá, pronta para o que der e vier. Aquele cão não era como os outros, sempre soube que a lua estava La, mas a lua é fria e distante, ele queria o calor.
Assim que amanhece o cão levanta de sua cama. Com novas energias e inspirado ele recomeça a sua busca sob a luz intensa do sol. “que delicia de sol” ele pensava. O sol conseguia chegar perto do tipo de calor que ele procurava, mas é claro, não era o legítimo.
Chegando perto de uma padaria viu vários cães contemplando um frango que rodava na máquina de rodar frangos. Ele se sentou junto aos amigos e ficou a observar os frangos girantes também. A máquina exalava um calor intenso, mas não se comparava ao calor que o cão procurava. O padeiro simpático lançou um pedaço da carne para os cães, todos comeram animados, menos aquele cão inquieto que não comeu nada, levantou-se e continuou em sua busca.
Chegando perto de uma praça sentiu o cheiro daquele calor. “finalmente!” pensou o cão que agora abanava o rabo e corria seguindo aquele odor. Mas deu de cara com um grupo de cachorras no cio, com uma fila enorme de cães de rua sarnentos esperando a sua vez de copular.
O cão desanimou-se. Deprimido começou a arrastar suas patas de volta para casa. No caminho viu outras cachorras, algumas em suas orgias de rua e outras aprisionadas em casa. As aprisionadas eram maravilhosas, o cão sempre chegava perto da grade e trocava lambidas, mas a prisão delas o mantém distante. Ele se perguntava porque elas não fugiam que nem ele.
De volta a casa, foi repreendido por ter fugido e teve que dormir do lado de fora, no frio da noite. Deitou-se na varanda e ficou a olhar as estrelas. Mas eis que de repente pula no muro uma gata, o coração do cão começa a pular. “encontrei!!” ele pensava, “é isso!”. O cão então animado levanta-se e começa a latir intensamente para a gata, mas ela não entende uma palavra de latido, então assustada, pula o muro de volta para a rua. E mais uma vez o cão dorme sozinho, afinal, não faz idéia de como se mia.
domingo, 13 de dezembro de 2009
sexo
A Rainha
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
poesia para o meu irmão menor
O peru do natal
Peru de natal, Sérgio Danilo Pena
O peru de Natal e a ciência
Em espírito festivo, Sergio Pena discute as confusões taxonômicas a que está sujeita essa ave e, a partir de uma parábola natalina, convida seus leitores a se espelharem no filósofo cético David Hume.
Por: Sergio Danilo Pena
Publicado em 11/12/2009 | Atualizado em 11/12/2009
‘Meleagris galloparvo’, o nosso peru doméstico, que no passado habitava as florestas dos Estados Unidos e México (foto: Wikimedia Commons).
Está chegando mais um Natal. É época de comer peru!
De fato, a ave tornou-se para nós um dos elementos mais importantes dos festejos de fim de ano, um verdadeiro ícone.
Em seu famoso conto “Peru de Natal” (que inspirou o título dessa coluna), o literato paulista Mário de Andrade (1893-1945) descreve com precisão uma ceia de sua adolescência: “O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso”.
Hoje, falaremos de diferentes aspectos do peru.
Uma confusão de nomes
O peru tem tido sérios problemas de identidade ao longo dos séculos. De fato, o nome é dado a uma ou outra de duas espécies de grandes aves selvagens do gêneroMeleagris nas Américas. Uma das espécies (Meleagris gallopavo), chamada de peru selvagem no seu estado natural nas florestas dos Estados Unidos e México, foi domesticada pelos astecas muito antes da chegada de Colombo e constitui o nosso contemporâneo peru de Natal. A outra espécie, Meleagris ocellata, é indígena da península de Iucatã e América Central e nunca foi domesticada.
Com a chegada dos europeus às Américas, os perus passaram a ser vítimas de grande confusão taxonômica e terminológica. Primeiro eles foram incorretamente identificados como sendo uma espécie de galinha d’angola (Numida meleagris) que, em inglês, é chamada de guinea fowl ou turkey-cock. Esse último nome veio do fato de que, na Inglaterra, as galinhas d’angola eram importadas através da Turquia (“Turkey”). O nome desse país passou então a ser metonimicamente empregado para designar a nova ave encontrada nas Américas. A confusão é refletida no fato de que o gênero taxonômico do peru – Meleagris – quer dizer galinha d’angola em grego.
Em outras línguas, são mais comuns referências à Índia. Isso provavelmente se deve à confusão das Américas com a Índia, que remonta a Colombo, e também a uma tendência a dar nomes de terras estrangeiras e longínquas a animais igualmente exóticos. E para os Europeus as Índias, a Turquia e a Guiné, na África, eram nomes genéricos para lugares similarmente exóticos. Assim, por exemplo, o mamífero sul-americano que chamamos em português de porquinho-da-índia (Cavia porcellus) é chamado de guinea pig pelos ingleses.
Dessa maneira, em turco, o peru é chamado de hindi que quer dizer "vindo da Índia". De forma similar temos o francês dinde ("da Índia"), o hebraico tarnegol hodu (תרנגול הודו), que literalmente significa “galinha indiana”, e o russo indiuk (индюк), que também se refere à Índia. A palavra em holandês é kalkoen, derivada da cidade de Calicute na Índia – o mesmo ocorre em dinamarquês, norueguês e sueco.
De forma curiosa, em grego o peru é gallopoula que significa "ave francesa" e no gálico escocês é cearc frangais, ou seja, "galinha francesa".
Aparentemente o nome peru que utilizamos em português vem do país Peru que, por sua vez, deriva da palavra Piruw, do quéchua, a língua dos Incas. Era de lá que a ave era exportada para Portugal. Em espanhol é diferente: pavo salvaje, também chamado mais simplesmente pavo, ou pisca, chumpipe, guajolote ou guanajo.
A parábola dos perus e o pensamento indutivo
Era uma vez uma fazenda onde eram criados perus. Um deles comentou um dia: “Como o nosso fazendeiro é bom! Todo dia ele nos alimenta sem falta”. Os outros perus concordaram, adicionando: “Realmente ele vem nos alimentando fielmente desde o tempo em que saímos do ovo”. E toda a peruzada alegremente fazia glu-glu, elogiando a benevolência do fazendeiro.
Mas havia um peru, inteligente e excêntrico, que contrariava a todos dizendo: “Como vocês sabem que ele é tão bom assim? No Natal passado, alguns dos nossos colegas mais rechonchudos foram tirados daqui e nunca mais os vimos. O que aconteceu com eles?”
Mas na manhã seguinte o fazendeiro retornou como de costume e alimentou fartamente todos os perus. Eles comeram com satisfação, dizendo ao colega criador de caso: “Está vendo? Não há nada para se preocupar. O fazendeiro até nos deu comida extra, o que quer dizer que nos ama. Ele é um bom homem!”
Então chegou dezembro. Todos os perus foram colocados em uma camionete e levados para o matadouro.
Moral da estória: Você nunca pode prever o futuro a partir de experiências passadas!
Essa estória ilustra bem “o problema da indução” e é derivada do Capítulo IV (On Induction) do livro Os problemas da filosofia, do lógico inglês Bertrand Russell (1872-1970), que ganhou o Nobel de Literatura em 1950. Russell usa galinhas em seu exemplo, mas o mesmo funciona igualmente bem com os nossos perus. Afinal, como diz um provérbio português: “Galinha e peru, tudo é um”.
O problema da indução
Vamos agora trazer essa discussão para a esfera humana, usando outro exemplo de Bertrand Russell. Ele pergunta se alguém tem a menor dúvida de que o Sol vai nascer amanhã. É claro que ninguém duvida disso. Por que não?
Vamos sempre dizer que o Sol nascerá amanhã, porque nasceu fielmente todos os dias desde que a humanidade apareceu. Podemos até tentar justificar nossa posição citando as leis newtonianas de rotação e translação dos corpos celestes etc.
Mas a questão é muito mais básica e profunda: como podemos ter certeza que as leis da física continuarão a vigorar amanhã? Podemos dizer que há uma alta probabilidade de isso ocorrer, mas não podemos ter certeza.
Esse é o problema da indução que, pela sua complexidade, não poderemos discutir de maneira mais completa nesta singela coluna. Convido o leitor a consultar outras fontes, como, por exemplo, a Enciclopédia de Filosofia de Stanford, disponível gratuitamente na internet.
Mas um nome que emerge como central nessa discussão é o do filósofo escocês David Hume (1711-1776), que mostrou que a indução não pode ser racionalmente justificada. O argumento é simples: como a indução não é um método à prova de erros – mesmo induções perfeitas podem conduzir a falsidades (como demonstrado na parábola dos perus) –, não se pode justificar a indução usando um raciocínio dedutivo. Por outro lado, seria circular tentar justificar a indução usando a própria indução.
Tal posição cética de Hume tem consequências drásticas para nós. Como diz Russell, o objetivo da ciência é exibir relações causais em termos de um sistema dedutivo onde efeitos seguem as causas, assim como as conclusões de argumentos válidos seguem necessariamente de suas premissas. Nisso a ciência é campeã e seus feitos fantásticos estão por toda parte.
Mas o que Hume está dizendo é que a premissa mais básica e elementar da ciência – de que as leis da natureza permanecerão constantes no futuro – é fundamentalmente indutiva e não pode ser logicamente validada.
Ceticismo no dia a dia
O ceticismo de Hume pode parecer paralisante. Mas não é. Nós, os cientistas, não somos obrigados praticar a experimentação seguindo os filósofos. Pelo contrário, são os filósofos da ciência que têm de explicar como e por que os cientistas empíricos são tão bem sucedidos na prática.
É interessante ver como Hume lidava com o seu próprio ceticismo. Em seu livro Tratado da natureza humana, ele descreve como jantava e jogava cartas com seus amigos para “dispersar as nuvens de ceticismo”, se curar da “melancolia e delírio filosófico” e “obliterar as quimeras que a reflexão abstrata o levou a inventar”. E ele descreve que quando, após três a quatro horas de divertimento com seus amigos, ele voltava à suas especulações, elas lhe pareciam tão forçadas e ridículas que ele não tinha vontade de continuar nelas.
Sigamos o exemplo de Hume. Nesse Natal vamos nos reunir com amigos e esquecer a filosofia em uma boa ceia, com um bom vinho e, sobretudo um saboroso peru.
Boas festas para todos!
Peru de natal, mário de Andrade
O Peru de Natal
Mário de Andrade
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.
Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a idéia de fazer uma das minhas chamadas "loucuras". Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, de uma criada de parentes: eu consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de "louco". "É doido, coitado!" falavam. Meus pais falavam com certa tristeza condescendente, o resto da parentagem buscando exemplo para os filhos e provavelmente com aquele prazer dos que se convencem de alguma superioridade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era doido, coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me queixar um nada.
Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas "loucuras":
— Bom, no Natal, quero comer peru.
Houve um desses espantos que ninguém não imagina. Logo minha tia solteirona e santa, que morava conosco, advertiu que não podíamos convidar ninguém por causa do luto.
— Mas quem falou de convidar ninguém! essa mania... Quando é que a gente já comeu peru em nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem toda essa parentada do diabo...
— Meu filho, não fale assim...
— Pois falo, pronto!
E descarreguei minha gelada indiferença pela nossa parentagem infinita, diz-que vinda de bandeirantes, que bem me importa! Era mesmo o momento pra desenvolver minha teoria de doido, coitado, não perdi a ocasião. Me deu de sopetão uma ternura imensa por mamãe e titia, minhas duas mães, três com minha irmã, as três mães que sempre me divinizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru era prato de festa: uma imundície de parentes já preparados pela tradição, invadiam a casa por causa do peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães, três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar, trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos de bem feitos, a parentagem devorava tudo e ainda levava embrulhinhos pros que não tinham podido vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que mamãe com titia ainda provavam num naco de perna, vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era peru em nossa casa, peru resto de festa.
Não, não se convidava ninguém, era um peru pra nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga. Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha companheira. Está claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos desconfiaram. E ficaram logo naquele ar de incenso assoprado, se não seria tentação do Dianho aproveitar receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia quase gritando. É certo que com meus "gostos", já bastante afinados fora do lar, pensei primeiro num vinho bom, completamente francês. Mas a ternura por mamãe venceu o doido, mamãe adorava cerveja.
Quando acabei meus projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam, era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a... culpa de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando, tímidos como pombas desgarradas, até que minha irmã resolveu o consentimento geral:
— É louco mesmo!...
Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso mais maravilhoso Natal. Fora engraçado:assim que me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha adorada. E meus manos também, estavam no mesmo ritmo violento de amor, todos dominados pela felicidade nova que o peru vinha imprimindo na família. De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru. Um momento aliás, ela parou, feito fatias um dos lados do peito da ave, não resistindo àquelas leis de economia que sempre a tinham entorpecido numa quase pobreza sem razão.
— Não senhora, corte inteiro! Só eu como tudo isso!
Era mentira. O amor familiar estava por tal forma incandescente em mim, que até era capaz de comer pouco, só-pra que os outros quatro comessem demais. E o diapasão dos outros era o mesmo. Aquele peru comido a sós, redescobria em cada um o que a quotidianidade abafara por completo, amor, paixão de mãe, paixão de filhos. Deus me perdoe mas estou pensando em Jesus... Naquela casa de burgueses bem modestos, estava se realizando um milagre digno do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteiramente reduzido a fatias amplas.
— Eu que sirvo!
"É louco, mesmo" pois por que havia de servir, se sempre mamãe servira naquela casa! Entre risos, os grandes pratos cheios foram passados pra mim e principiei uma distribuição heróica, enquanto mandava meu mano servir a cerveja. Tomei conta logo de um pedaço admirável da "casca", cheio de gordura e pus no prato. E depois vastas fatias brancas. A voz severizada de mamãe cortou o espaço angustiado com que todos aspiravam pela sua parte no peru:
— Se lembre de seus manos, Juca!
Quando que ela havia de imaginar, a pobre! que aquele era o prato dela, da Mãe, da minha amiga maltratada, que sabia da Rose, que sabia meus crimes, a que eu só lembrava de comunicar o que fazia sofrer! O prato ficou sublime.
— Mamãe, este é o da senhora! Não! não passe não!
Foi quando ela não pode mais com tanta comoção e principiou chorando. Minha tia também, logo percebendo que o novo prato sublime seria o dela, entrou no refrão das lágrimas. E minha irmã, que jamais viu lágrima sem abrir a torneirinha também, se esparramou no choro. Então principiei dizendo muitos desaforos pra não chorar também, tinha dezenove anos... Diabo de família besta que via peru e chorava! coisas assim. Todos se esforçavam por sorrir, mas agora é que a alegria se tornara impossível. É que o pranto evocara por associação a imagem indesejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal, fiquei danado.
Bom, principiou-se a comer em silêncio, lutuosos, e o peru estava perfeito. A carne mansa, de um tecido muito tênue boiava fagueira entre os sabores das farofas e do presunto, de vez em quando ferida, inquietada e redesejada, pela intervenção mais violenta da ameixa preta e o estorvo petulante dos pedacinhos de noz. Mas papai sentado ali, gigantesco, incompleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade. E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho nascido.
Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto de papai. Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o partido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos, muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuportavelmente obstruidora.
— Só falta seu pai...
Eu nem comia, nem podia mais gostar daquele peru perfeito, tanto que me interessava aquela luta entre os dois mortos. Cheguei a odiar papai. E nem sei que inspiração genial, de repente me tornou hipócrita e político. Naquele instante que hoje me parece decisivo da nossa família, tomei aparentemente o partido de meu pai. Fingi, triste:
— É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não mencionar mais o peru) contente de ver nós todos reunidos em família.
E todos principiaram muito calmos, falando de papai. A imagem dele foi diminuindo, diminuindo e virou uma estrelinha brilhante do céu. Agora todos comiam o peru com sensualidade, porque papai fora muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora um santo que "vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai", um santo. Papai virara santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.
Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de felicidade. Ia escrever «felicidade gustativa», mas não era só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor de todos, um esquecimento de outros parentescos distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que foi aquele primeiro peru comido no recesso da família, o início de um amor novo, reacomodado, mais completo, mais rico e inventivo, mais complacente e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a terão assim grande, porém mais intensa que a nossa me é impossível conceber.
Mamãe comeu tanto peru que um momento imaginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah, que faça! mesmo que ela morra, mas pelo menos que uma vez na vida coma peru de verdade!
A tamanha falta de egoísmo me transportara o nosso infinito amor... Depois vieram umas uvas leves e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de "bem-casados". Mas nem mesmo este nome perigoso se associou à lembrança de meu pai, que o peru já convertera em dignidade, em coisa certa, em culto puro de contemplação.
Levantamos. Eram quase duas horas, todos alegres, bambeados por duas garrafas de cerveja. Todos iam deitar, dormir ou mexer na cama, pouco importa, porque é bom uma insônia feliz. O diabo é que a Rose, católica antes de ser Rose, prometera me esperar com uma champanha. Pra poder sair, menti, falei que ia a uma festa de amigo, beijei mamãe e pisquei pra ela, modo de contar onde é que ia e fazê-la sofrer seu bocado. As outras duas mulheres beijei sem piscar. E agora, Rose!...
Mário de Andrade (1893-1945), nasceu em São Paulo, mostrando desde cedo inclinação pela música e literatura. Seu interesse pelas artes levou-o a realizar em São Paulo, de parceria com Oswald de Andrade, a Semana de Arte Moderna, que rasgou novas perspectivas para a cultura brasileira. Sua obra, essencialmente brasileira, reflete um nacionalismo humanista, que nada tem de místico e abstrato. "Macunaíma", baseada em temas folclóricos é, geralmente, considerada a sua obra-prima.
O texto acima foi extraído do livro "Nós e o Natal", Artes Gráficas Gomes de Souza, Rio de Janeiro, 1964, pág. 23..
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
O palhaço do circo sem futuro
era um palhaço de um circo sem futuro:
Ele se formou em outra coisa, nunca dizia no que o pai trabalhava. Até que um dia, recebe a noticia que o pai esta no leito de morte. AI ele vai la, entra no quarto, tira o palito, tira a gravata, se ajoelha e diz:
"PAI, me ensina a ser palhaço!!"
"PAI! Me ensina a ser palhaço!!!"
"PAI! ME ENSINA A SER PALHAÇO!!"
"Isso não se ensina seu bosta"
Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo pegando fogo
Circo
(Palhaçada)
Cordel do fogo encantado